Uma nova abordagem à apneia do sono
Poderão os agonistas dos receptores GLP-1 alterar a forma como os médicos tratam a apneia obstrutiva do sono (AOS)?
Um estudo recente analisou os efeitos da tirzepatide (Zepbound) no tratamento da AOS moderada a grave em adultos com obesidade. De um modo geral, a investigação constituiu um marco significativo.
Em todo o mundo, a apneia afecta milhões de pessoas, uma vez que a doença está frequentemente associada à obesidade e a problemas respiratórios durante o sono. No entanto, até hoje, as opções de tratamento ainda têm limitações.
Embora os aparelhos de CPAP (pressão positiva contínua nas vias respiratórias) continuem a ser o padrão de ouro, muitos doentes continuam a considerá-los desconfortáveis ou inconvenientes. Por isso, a adesão continua a ser baixa.
O que são agonistas dos receptores GLP-1?
No início, os doentes utilizavam os agonistas dos receptores GLP-1 para a diabetes e a perda de peso. Mas agora, estão a provar ser úteis para além do seu objetivo original, como o tratamento da apneia.
Em geral, estes medicamentos funcionam imitando uma hormona que regula o apetite e o açúcar no sangue. Por isso, ajuda a reduzir o peso corporal.
O semaglutide (Wegovy) e o tirzepatide (Zepbound) são dois fármacos GLP-1 populares que estão agora a ser investigados para obter benefícios adicionais. Uma vez que o peso desempenha um papel importante na AOS, estes medicamentos oferecem uma nova via para a gestão e alívio.
As evidências clínicas estão a aumentar
Vários estudos recentes confirmam a promessa dos medicamentos GLP-1 no tratamento da apneia. Em particular, um grande estudo mostrou uma queda nos valores do IAH.
O IAH, ou índice de apneia-hipopneia, mede a gravidade da apneia do sono. Pontuações mais baixas sugerem um sono melhor e menos interrupções respiratórias.
Além disso, em alguns doentes, os medicamentos GLP-1 mostraram eficácia mesmo antes de os doentes perderem peso. Além disso, um ensaio em grande escala mostrou como estes medicamentos reduziram a gravidade da AOS e os sintomas diurnos.
É evidente que esta classe de medicamentos é mais do que uma simples solução para a perda de peso. Pode tratar diretamente a doença.
Ajudar os doentes com apneia
Os medicamentos GLP-1 ajudam os doentes com apneia principalmente através da redução de peso. À medida que a gordura à volta do pescoço diminui, as vias respiratórias sofrem uma redução da restrição durante o sono.
Além disso, as primeiras teorias sugerem um efeito neurológico. Especificamente, estes medicamentos podem influenciar os centros cerebrais que controlam a respiração durante o sono.
Embora seja necessária mais investigação, esta hipótese poderia explicar por que razão alguns benefícios aparecem antes de uma grande mudança de peso.
Estes benefícios tornam os GLP-1 particularmente promissores para as pessoas que sofrem de apneia e obesidade.
Os especialistas avaliam
A Dra. Anne Marie Morse, neurologista e especialista em sono, descreve o desenvolvimento como um “divisor de águas” no tratamento da apneia obstrutiva do sono.
De acordo com a Dra. Morse, os GLP-1s oferecem uma alternativa aos pacientes, especialmente àqueles que não toleram a terapia com CPAP. Além disso, enfatiza os cuidados personalizados, uma vez que nem todos os doentes respondem da mesma forma, e a monitorização contínua é crucial.
Entretanto, os investigadores sublinham que os fármacos GLP-1 devem complementar – e não substituir – os tratamentos de apneia existentes, como o CPAP, quando apropriado.
Olhando para o futuro
Os agonistas dos receptores GLP-1 marcam um novo capítulo no tratamento da apneia do sono. Para os doentes, os benefícios podem mudar a sua vida.
Mesmo assim, são necessários estudos a longo prazo para compreender todo o seu potencial e eventuais efeitos secundários.
À medida que os tratamentos evoluem, a combinação de terapias pode produzir os melhores resultados para as pessoas com perfis de saúde complexos.
Em última análise, os GLP-1 oferecem mais do que apenas perda de peso – oferecem uma verdadeira esperança para milhões de pessoas que vivem com apneia do sono.
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