Os agonistas dos receptores GLP-1 (GLP-1 RAs) são muito populares para controlar a diabetes tipo 2 e promover a perda de peso. Mas estudos recentes mostram que podem ter benefícios ainda mais amplos para além destas condições. Por exemplo, têm um potencial significativo na redução para metade do risco de cancro e na melhoria da saúde cardiovascular, particularmente em doentes de cirurgia bariátrica.
Reduzir o risco de cancro
Um importante estudo israelita, apresentado no Congresso Europeu sobre Obesidade, examinou o potencial de combate ao cancro dos AR GLP-1. Mais concretamente, o estudo comparou os doentes que utilizavam os AR GLP-1 com os que tinham sido submetidos a cirurgia bariátrica. Surpreendentemente, os medicamentos reduziram o risco de cancro relacionado com a obesidade em 41%, mesmo depois de ajustados às diferenças de peso.
“Estas descobertas proporcionam uma perspetiva clínica inicial importante”, afirmou a coautora principal, a Professora Orna Reges, da Universidade Ariel e dos Serviços de Saúde Clalit em Israel.
“Em situações reais, as pessoas que vivem com obesidade e diabetes tipo 2 correm um risco acrescido de doença cardiovascular, e estes resultados sugerem que iniciar os GLP-1RA após a cirurgia bariátrica pode ajudar a conseguir reduções sustentadas no peso e nos níveis de glucose no sangue – comparáveis às conseguidas apenas com a cirurgia bariátrica noutros doentes – e pode também reduzir o risco a longo prazo de MACE”.
Os benefícios não se limitam à perda de peso. Os investigadores acreditam que os AR GLP-1 também reduzem a inflamação e regulam as hormonas ligadas ao crescimento do tumor. Consequentemente, estes medicamentos podem ter um impacto direto nas vias do cancro.
Os cancros com incidência reduzida incluem o cancro da mama pós-menopausa, o cancro colorrectal e o cancro do endométrio. Por conseguinte, estes resultados sugerem um novo e promissor papel para os AR GLP-1 na prevenção do cancro.
Saúde do coração após a cirurgia bariátrica
Outro estudo centrou-se em doentes que já tinham sido submetidos a cirurgia bariátrica. Descobriu que aqueles que também receberam GLP-1 RAs tiveram melhores resultados cardiovasculares. De facto, estes doentes registaram uma redução de 67% nos principais eventos cardíacos adversos e nas taxas de mortalidade global.
Esta combinação – cirurgia e terapia com GLP-1 – oferece uma abordagem dupla poderosa. Em particular, ajuda os doentes que não conseguem um controlo metabólico total após a cirurgia. Além disso, as descobertas podem reformular as estratégias de tratamento para pacientes com obesidade de alto risco.
Prevenção do cancro e das doenças cardíacas
É evidente que os AR GLP-1 têm benefícios que vão para além do controlo da diabetes. Estão a emergir como ferramentas vitais na gestão abrangente da obesidade. Assim, estes medicamentos poderão em breve fazer parte do tratamento padrão para a prevenção do cancro e das doenças cardíacas em indivíduos obesos.
No entanto, continua a ser necessária mais investigação. Embora os estudos observacionais sejam encorajadores, os especialistas apelam à realização de ensaios controlados e aleatórios. Só então os especialistas poderão compreender e confirmar plenamente os efeitos a longo prazo dos medicamentos.
No entanto, os dados obtidos até à data são sólidos. Destacam como os tratamentos metabólicos podem influenciar mais do que apenas o peso. Certamente, os AR GLP-1 podem proteger contra as complicações mais graves da obesidade.
Uma nova era no tratamento da obesidade?
Os AR GLP-1 já não são apenas medicamentos para a diabetes. Cada vez mais se assemelham a medicamentos polivalentes que reduzem o risco de cancro e reforçam a saúde do coração. Em combinação com a cirurgia bariátrica, os seus benefícios são ainda maiores.
Por conseguinte, os prestadores de cuidados de saúde devem prestar muita atenção. Com o tempo, os AR GLP-1 poderão em breve tornar-se pedras angulares no tratamento e prevenção de doenças relacionadas com a obesidade. À medida que novos ensaios forem sendo realizados, todo o seu potencial tornar-se-á mais claro.
Sem dúvida, esta classe de medicamentos está a mudar a forma como abordamos a obesidade – e as suas muitas consequências perigosas.
Foto de Jonathan Borba em Não usa o Unsplash